26 maio, 2010

Entrevista de Jorge Jesus

“Sem papas na língua” talvez seja mesmo a melhor expressão para definir a prestação do nosso treinador, ontem na RTPn. Respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e não deu azos a suspeições, com mais treinadores assim os jornalistas não iriam ter um trabalho fácil. Principais considerações a fazer:

- Jorge Jesus é um treinador que pensa demasiado pela própria cabeça, isso é bom para um clube que aposte numa viragem clara e que pretenda seguir o rumo das vitórias; mas é um treinador que teria dificuldade em se impor num clube que tenha ganho vários títulos nos últimos anos e que pretenda continuar com a mesma filosofia de sucesso;

- É o típico treinador que precisa de uma estrutura interna forte porque faz questão de dar a cara e, como tal, todos os outros focos de poder têm de estar em sintonia;

- É um treinador cruel mas justo, por exemplo, disse o que todos os benfiquistas andam a dizer há alguns anos, Quim tem sido o melhor guarda-redes do Benfica mas não quer dizer que seja o melhor para o Benfica. Se o clube cumpriu integralmente todos os compromissos com o jogador, se o jogador foi campeão também devido ao clube que representou não me parece que haja aqui um peso na consciência. Parabéns ao Quim pelo seu percurso e um obrigado pelo trabalho, dedicação e respeito que sempre teve para com o clube, mas a vida continua;

- Não me pareceu nada espontâneo no momento em que fala de Huntelaar, parece que faz a vontade ao jornalista deixando no ar a sensação que o jogador não é prioridade, da mesma forma em que preparou os benfiquistas para as saídas de Di Maria e Cardozo;

- Jorge Jesus fala muito na primeira pessoa do singular e não tenho duvidas que tem um ego do tamanho do mundo, mas a sua capacidade profissional e sabedoria conseguem disfarçar essa aparente falta de humildade, talvez seja esse ar de nariz empinado que fez falta ao Benfica, esse tom imperial como quem nasceu num berço de ouro;

- Estarmos gratos a Jorge Jesus e reconhecer que é a pessoa certa no lugar certo não quer dizer que ele precise de vénias, daí que também tenha sido inteligente ter reconhecido que, sem as alterações que fez, o Benfica dificilmente seria eliminado em Liverpool.

Em resumo, os benfiquistas sempre se preocuparam com as questões do estilo e da correcção dos treinadores, deixando para segundo plano questões fundamentais como a competência e a sabedoria, e a primeira pode ter pouco a ver com a segunda. Quique Flores é competente, Toni é sábio, Jorge jesus reúne as duas condições, assim saiba que o que conseguiu nesta época não foi um momento assim tão único, foi o de voltar a uma história gloriosa e o de nos fazer acreditar que o futuro vai brilhar, assim como os seus olhos adivinham grandes vitorias. A humildade é a capacidade que temos de reconhecer que podemos fazer mais e melhor.

1 comentário:

  1. Ontem ouvi parte de uma entrevista de Mourinho à entrada no Real, onde curiosamente voltou a fazer referência a um dos critérios que mais o diferencia do comum dos treinadores - o tempo, o tempo necessário para apresentar resultados. Um bom treinador ou pega numa equipa de tal qualidade que o melhor é não mexer para não estragar ou, não sendo assim, pode/deve mostrar resultados até na semana seguinte (não falo de vitórias, mas de processos de jogo). Mourinho tem-o mostrado por todo o lado por onde tem passado e Jesus surpreendeu-me este ano pelo mesmo motivo. Mais coisas em comum? Talvez muita capacidade de perceber os jogadores, saber muito bem o que se quer e como chegar lá, saber motivá-los e tirar o máximo partido das suas capacidades em prol do projecto colectivo: Eto, Coentrão, Carlos Martins...etc, jogam motivadíssimos à defesa...Já o Miguel Veloso...?! Muitas das ideias que Mourinho trouxe para o futebol já estavam a ser usadas por alguns treinadores em modalidades colectivas em que táctica é mais determinante. No entanto a forma como as cozinhou à sua maneira e à maneira do futebol, como as embrulhou e seduziu as suas equipas e desatou a recolher troféus por todo lado para onde vai, colocam-no num patamar onde mais ninguém chega... nem chegará! Sei que parece uma heresia, mas apesar da ainda curta carreira, os feitos de Mourinho são algo para lá de Pélé, Maradona, Eusébio, Figo, Cristiano, Messi, Pedroto, Fergusson e sei lá mais quem. Enquanto houver memória continuará a discussão de quem é melhor: Pélé, Maradona...
    Com Mourinho não há discussão! O treinador é a cabeça da equipa e a equipa a essência do jogo. Mourinho é o melhor treinador e portanto o melhor do jogo. Esperemos que Jesus chegue perto - já era muito bom!

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