“Sem papas na língua” talvez seja mesmo a melhor expressão para definir a prestação do nosso treinador, ontem na RTPn. Respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e não deu azos a suspeições, com mais treinadores assim os jornalistas não iriam ter um trabalho fácil. Principais considerações a fazer:
- Jorge Jesus é um treinador que pensa demasiado pela própria cabeça, isso é bom para um clube que aposte numa viragem clara e que pretenda seguir o rumo das vitórias; mas é um treinador que teria dificuldade em se impor num clube que tenha ganho vários títulos nos últimos anos e que pretenda continuar com a mesma filosofia de sucesso;
- É o típico treinador que precisa de uma estrutura interna forte porque faz questão de dar a cara e, como tal, todos os outros focos de poder têm de estar em sintonia;
- É um treinador cruel mas justo, por exemplo, disse o que todos os benfiquistas andam a dizer há alguns anos, Quim tem sido o melhor guarda-redes do Benfica mas não quer dizer que seja o melhor para o Benfica. Se o clube cumpriu integralmente todos os compromissos com o jogador, se o jogador foi campeão também devido ao clube que representou não me parece que haja aqui um peso na consciência. Parabéns ao Quim pelo seu percurso e um obrigado pelo trabalho, dedicação e respeito que sempre teve para com o clube, mas a vida continua;
- Não me pareceu nada espontâneo no momento em que fala de Huntelaar, parece que faz a vontade ao jornalista deixando no ar a sensação que o jogador não é prioridade, da mesma forma em que preparou os benfiquistas para as saídas de Di Maria e Cardozo;
- Jorge Jesus fala muito na primeira pessoa do singular e não tenho duvidas que tem um ego do tamanho do mundo, mas a sua capacidade profissional e sabedoria conseguem disfarçar essa aparente falta de humildade, talvez seja esse ar de nariz empinado que fez falta ao Benfica, esse tom imperial como quem nasceu num berço de ouro;
- Estarmos gratos a Jorge Jesus e reconhecer que é a pessoa certa no lugar certo não quer dizer que ele precise de vénias, daí que também tenha sido inteligente ter reconhecido que, sem as alterações que fez, o Benfica dificilmente seria eliminado em Liverpool.
Em resumo, os benfiquistas sempre se preocuparam com as questões do estilo e da correcção dos treinadores, deixando para segundo plano questões fundamentais como a competência e a sabedoria, e a primeira pode ter pouco a ver com a segunda. Quique Flores é competente, Toni é sábio, Jorge jesus reúne as duas condições, assim saiba que o que conseguiu nesta época não foi um momento assim tão único, foi o de voltar a uma história gloriosa e o de nos fazer acreditar que o futuro vai brilhar, assim como os seus olhos adivinham grandes vitorias. A humildade é a capacidade que temos de reconhecer que podemos fazer mais e melhor.